quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Noite em Roterdão (Conto)


Andando pelas ruas do cais em tua companhia mulher degenerada
conheci minha solidão corrompida de isolamento e fuga,
eu tão intelectual e autosuficiente me vi na lente das vitrines holandesas
como um artigo em desuso... carente, pobre...
Todo o brilho de minha armadura enverdeceu...
Olho em tua face, e mesmo sabendo que este vento úmido e gelado te corta os poros
sinto os jorros quente de sangue de tuas bochechas... Embora com extrema compaixão
não estás pronta para debochar de minha momentânea fragilidade.
Ganhamos a alameda em direção a catedral... tu caminhas agora escorada ao meu lado, como um rebocador me levando devagarinho ao meu destino... A noite me fez pesado, mas os primeiros glances de luz do dia me fazem sentir como senhor da hora... não tenho nenhum compromisso neste dia, a não ser descobrir como é a sua vida deste lado de cá da vitrine... Como muitas vezes ontem na fumaça do bordel, hoje não vais fugir de minha mira, nem sequer por um instante, mesmo obrando ou se fazendo em jatos... Eu estarei rasgando as rendas de sedas da minha miserável solidão apostólica. Duas vielas antes da avenida que leva a catedral me empurras para um beco, desejo que me mates, pois prescinto que se chegarmos ao nosso destino, na tua simplicidade de prostituta, me despojara de toda minha vaidade... quero que a minha embriagues excitada retorne, quero ser violento... mas seu semblante corajoso me olha docemente e me deseja, sei que tudo que te move é interesse de me acompanhar em minha viagem, e não sei de onde tirarei forças... para escapar do teu reino que estou prestes a penetrar...

Beco escuro, além de uma vaga de carga e descarga vejo três portas ao lado de quatro containers de materiais recicláveis, duas delas são certamente fundos de lojas, e a terceira, através do vidro com barras de ferro se mostram as escadas. Sinto nas pernas a extensão da noite, voce sorri nos meus olhos, e comprime meus lábios com os dentes, o trinco da porta estala seu click, e sinto o bafo da calefação fugindo do interior do prédio. Subimos três lances de escadas sem encontrar nemuma porta, até chegarmos no último andar diante de uma muita larga e entalhada, madeira clara como de sándalo, toda em detalhes indus, uma linda mandala no centro, com diferentes deuse a sua volta. Posso reconhecer Shiva e Ganesha, e pelas indumentárias penso que os outros não são deuses muito comuns... Percebo que a porta está só encostada... Um ruído lá dentro revela que não estamos sózinhos, me escapa uma expressão de desapontamento, mas Lucille me diz que é apenas seu gato, e comenta, que esta peça talhada nunca é fechada . Agora consigo pronunciar em minha mente frases construídas no meu parco holandes, embora seja ela apenas uma prostituta quero continuar impressionando ... Está deflagrado um jogo de conquista, e os nosso papéis socias foram exonerados, na verdade começo a termer que todos meus princípios foram vendidos, e que essa devassa mulher agora é que remunera os meus serviços, não sei se me compra com sua juventude, ou com a precisão de seus comentários sobre a minha pessoa e meus comportamentos... Ela empurra a porta que se abre com um ranger afinado e rítmico.

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